Sou obrigado a procurar uma verdade que me ultrapassa. Por que escrevo sobre uma jovem que nem pobreza enfeitada tem? Talvez porque nela haja um recolhimento e também porque na pobreza de corpo e espírito eu toco na santidade, eu que quero sentir o sopro do meu além. Para ser mais do que eu, pois tão pouco sou.
Escrevo por não ter nada a fazer no mundo: sobrei e não há lugar para mim na terra dos homens...
Experimentei quase tudo, inclusive a paixão e o seu desepero. E agora só quereria ter o que eu tivesse sido e não fui.
Acho que os sentimentos do narrador não sejam tão incomuns. Talvez sejam mais dramáticos na forma que escreve, mas eu já senti essa necessidade de pensar e meditar em coisas que me apresentaram um novo mundo.
Quase três anos atrás tive uma conversa com uma colega de trabalho que me deixou tremuloso. As coisas que ela me diziam eram tudo que eu estava procurando na vida. Não aguentei trabalhar mais, então eu saí cedo e voltei para casa para meditar, orar, e escrever.
Dois anos atrás assisti uma palestra sobre as diferenças entre os modos grego e hebraico de pensar. A palestra foi tão chocante que depois da aula (que terminou às sete horas), não pude voltar para casa diretamente e passei duas horas andando de bicicleta em todo canto do campus, pensando nas coisas que tinha aprendido.
Algumas vezes a experiência toma a forma de claridade, mas muitas vezes só temos um sentimento de que existe algo profundo que podemos compreender. Esse sentimento chama, demanda a nossa atenção e nos leva à meditação e pequisa. Não podemos viver ignorando o sentimento. Acho que isso foi a experiência do narrador (e da Clarice também).
Ótimo comentário—como sempre.
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