Friday, October 7, 2011

O Bicho

Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um ra to.
O bicho, meu Deus, era um homem.
- Manuel Bandeira
Esta poesia solena de Manuel Bandeira tem um ínicio normal e um final chocante. Somos acostumados a ver bichos comendo nojeira, mas homem? Essa visão nos abala. Em cima dos outros bichos, o ser humano é de sangue nobre. Não quer dizer que todas as pessoas são descendente de reis, mas não precisam ser da família real para ser nobre. Fazer parte da raça humana lhe dá uma nobreza inerente.

Metaforicamente, eu leo essa poesia de duas formas: pensando do modernismo brasileiro, tal vez a imundície do pátio seja as idéias europeas que os brasileiros engoliam sem pensar, sem ser críticos. Desta forma, Bandeira diz que engolir idéias assim sem discrição é bestial.

A outra leitura minha é sugerir que a comida representa os bens morais que procuramos. Quando procuramos esses bens, devemos procurar nos lugares corretos. Não devemos procurar o que alimenta a alma na lixeira.

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