Monday, October 24, 2011

Menino Perdido

Eu não sabia nada. Levava para o colégio um corpo sacudido pelas paixões de homem feito e uma alma mais velho do que o meu corpo. Aquele Sérgio, de Raul Pompeia, entrava no internato de cabelos grandes e com uma alma de anjo cheirando a virginidade. Eu não: era sabendo de tudo, era adiantado nos anos, que ia atravessar as portas do meu colégio.

Menino perdido, menino de engenho.

De que forma foi o Carlinhos perdido? Como é que ele "não sabia nada" e também "era sabendo de tudo?"


Carlinhos sabia de tudo dentro do engenho, mas fora do engenho, não sabia nada. Ele conhecia e sabia utilizar a corrupção do engenho, mas o que isso vale no mundo exterior? A vida do engenho estava em decadência, e logo ia acabar. Carlinhos tinha que se ajustar.

No início do romance, aprendemos que a mãe do narrador chamava o engenho de um "recanto do céu." Se era um recanto do céu, deveria ter sido um céu construído pela família. Ou seja, era um céu falso que não podia se suportar.

No mundo de hoje existem milhares de céus criados pelos homens. Esses céus valorizam a preguiça, os desejos carnais, a ganância, em sumo, a vida fãcil. O tempo vai revelando a falsidade desses céus e os seus habitantes encontram-se perdidos. Os reis se tornam retirante e saem à procura de um outro céu. A medida que eles procuram o céu no mundo dos homens, porém, eles só vão encontrar o paraíso falso de homem.

 A diferença entre um céu verdadeiro e um céu falso é a liberadede e a igualdade. Todos os céus falsos não podem se suportarem para sempre, porque eles dependem da capacidade de explorar e objectificar os outros. Quando os outros se revoltam ou desaparecem, o que acontece? O seu céu desaba.

Menino perdido, menino de engenho.

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