A seguinte passagem foi tirada do texto Iracema de José de Alencar.
-- Iracema não pode mais separar-se do estrangeiro.
-- Assim é preciso, filha de Araquém. Torna à cabana de teu velho pai, que te espera.
-- Araquém já não tem filha.
Martim tornou com gesto rudo e severo:
-- Um guerreiro de minha raça jamais deixou a cabana do hóspede, viuva da sua alegria. Araquém abraçará sua filha, para não almodiçoar o estrangeiro ingrato.
Curvou a virgem a fronte.
-- Iracema te acompanhará, guerreiro branco; porque ela já é tua esposa.
Martim estremeceu.
O diálogo da passagem marca o clímax da história, quando o Martim fica sabendo que ele já é o esposo da Iracema. Tudo que ocorre depois deste momento é resulto desta união dramática. O mais triste é que apesar de ser uma romance, a anúncia do casamento entre Iracema e Martim é chocante e horrorosa. Porque é assim?
O casamento típicamente acontece entre duas pessoas que sabem que vão casar! O casamento entre Martim e Iracema não foi esperado, nem planejado. A verdade é que o Martim pediu uma coisa sem saber as consequências de suas ações. Ele pediu o licor e ganhou uma esposa. Será que, com este momento, Alencar está dizendo alguma coisa a respeito das origens do Brasil?
Acho que sim.
O Brasil que existe foi resulto de um casamento acidental entre os povos nativos e os europeus. Nenhum dos dois pretendia fazer parte da vida do outro, más afinal, os mundos foram entrelaçados. E, como a da Iracema, a vida do nativo começou a diminuir, deixando o viúvo com uma nova raça e uma nova nação. Já não pôde voltar para atrás.
Obrigado pelo belo comentário, Michael.
ReplyDelete