Thursday, September 29, 2011

Tragédia de Dom Casmurro

-- Não, Bentinho, ou conte o resto, para que eu me defenda, se você acha que tenho defesa, ou peço-lhe já a nossa separação: não posso mais!
-- A separação é cousa decidida, redargui...

Escolhi este diálogo porque acho que representa a maior causa da tragédia. É simplesmente isto: a decisão já era decidida antes de acontecer qualquer conversa entre Bentinho e Capitu.

Quando levamos uma conversa com a mente fechada, não pode existir qualquer cura. É possível que a Capitu fosse realmente culpada, mas por quê fechar a mente antes de considerar a outra possibilidade: que você fez uma interpretação errada?

Wednesday, September 21, 2011

A Pesquisa do Descrente

"Não desprezesa correção do Senhor; ele fere e cura."

Estas palavras, faladas pelo padre Cabral, chegam a ser uma memória significante para Dom Casmurro. No capítulo seguinte, Casmurro descreve o seu tentativo de pesquisar e escrever uma dissertação no assunto. Por quê foi a frase tão importante para ele, até ao ponto que ele conversou com vermes para adquirir conhecimento?

A frase é importante porque oferece sentido para experiências negativas da vida. Sabemos, pois, que Dom Casmurro tem uma história triste. Eu acho que Dom Casmurro não acredita nesse conselho, e por isso, tem que provar que é uma criação de homem, ou que não tem valor especial. Em outras palavras, ele quer invalidar a possibilidade de que ele poderia fazer sentido da vida ao aplicar esse conselho. É como as pessoas que perdem a crença em Deus, e passam a vida tentando provar que ele não pode existir. 

Parece que ele quer e não quer respostas. 

Tuesday, September 13, 2011

Esposa?! Uaiaa! Foi uma bebida forte!

A seguinte passagem foi tirada do texto Iracema de José de Alencar. 

-- Que segredo guardas no teu seio, virgem formosa do sertão?
-- Iracema não pode mais separar-se do estrangeiro.
-- Assim é preciso, filha de Araquém. Torna à cabana de teu velho pai, que te espera.
-- Araquém já não tem filha.
Martim tornou com gesto rudo e severo:
-- Um guerreiro de minha raça jamais deixou a cabana do hóspede, viuva da sua alegria. Araquém abraçará sua filha, para não almodiçoar o estrangeiro ingrato.
Curvou a virgem a fronte.
-- Iracema te acompanhará, guerreiro branco; porque ela já é tua esposa.
Martim estremeceu.

O diálogo da passagem marca o clímax da história, quando o Martim fica sabendo que ele já é o esposo da Iracema. Tudo que ocorre depois deste momento é resulto desta união dramática. O mais triste é que apesar de ser uma romance, a anúncia do casamento entre Iracema e Martim é chocante e horrorosa. Porque é assim?

O casamento típicamente acontece entre duas pessoas que sabem que vão casar! O casamento entre Martim e Iracema não foi esperado, nem planejado. A verdade é que o Martim pediu uma coisa sem saber as consequências de suas ações. Ele pediu o licor e ganhou uma esposa. Será que, com este momento, Alencar está dizendo alguma coisa a respeito das origens do Brasil?

Acho que sim. 

O Brasil que existe foi resulto de um casamento acidental entre os povos nativos e os europeus. Nenhum dos dois pretendia fazer parte da vida do outro, más afinal, os mundos foram entrelaçados. E, como a da  Iracema, a vida do nativo começou a diminuir, deixando o viúvo com uma nova raça e uma nova nação. Já não pôde voltar para atrás. 

Saturday, September 10, 2011

Caminho Das Nuvens

Assisti o filme Caminho Das Nuvens óntem, que segue a história de uma família pobre nordestina que vai para o Rio de Janeiro de bicicleta à procura de um bom emprego. O filme é uma exibição emocional de forças contrastantes que existem na família: o ideal e o pratical; a independência e a interdependência; a fé e a descrença; a felicidade e a miséria; a obediência e a rebelião. Apesar de ser uma história extraordinária, a experiência da família no filme é a história comum da família humana.

Todo bom pai quer o melhor para a sua família. O pai tem uma idéia que talvez seja irrealizável, más tem que ter fé que é possível.

Toda boa mãe quer o melhor para a sua família. A mãe tem um entendimento claro das necessidades físicas e emocionais de seus filhos, e faz tudo que é possível para que essas necessidades sejam atendidas.

O adolescente quer ser adulto, independente e respeitado. Ele quer ser pai e não quer ser pai. Ele não entende a razão de todas as órdens de seus pais, más toda vez que tenta sair deles e entrar no mundo, acaba sendo humilhado e volta para a família.

O importante é reconher os contrastes da família e estabelecer uma harmonia para que a família funcione e cada membro sinta que faz parte. A família do filme não era perfeito (nenhuma é), más o relacionamento entre marido e mulher representava essa harmonia de contrastes. Ela consentiu em viajar, e ele concordou a ficar no Rio, em vez de viajar de novo. Que motiva-nos a estabelecer essa harmonia? É o desejo do bem estar de nossa família. É reconhecer que sozinhos, não temos todas as respostas. É reconhecer que temos necessidade de um ao outro. Em fim, é o amor.

Wednesday, September 7, 2011

A Carta e o Mistério

A seguinte passagem foi tirada da Carta de Achamento do Brasil, escrita por Pedro Vaz de Caminha no ano 1500. Aqui no final da carta, Caminha reafirma a sua convicção religiosa ao rei de Portugal. Caminha era escrivão para os jesuítas e escrevia bastante nesta carta a respeito da salvação dos filhos de Deus, bem como os aspectos desejáveis do país.


Porém, o melhor fruto, que nela se pode fazer, me parece que será salvar esta gente. E esta deve ser a principal semente que Vossa Alteza em ela deve lançar.


Caminha escreveu essas palavras logo depois de elogiar a natureza e os aspectos geográficos da terra; em verdade, ao ler suas palavras, parece que ele descobriu o perdido jardim do edem. Esta imagem é ainda mais apropriada com a descrição de um povo tão inocente como crianças. Os nativos que Caminha descreveu andavam nu e eram pacíficos, assim como os primeiros pais antes da sua queda. Era um povo inocente, sem Deus, num paraíso perfeito.


O que eu gostaria de saber é: Qual era o propósito de verdade de Caminha? Será que este propósito influenciou a sua descrição ao rei? No meu olhar, Caminha podia ser um de três tipos de homem. Opção um é que ele só fingia desejar a salvação do povo, e ele só incluiu as palavras citadas para cobrir a sua ganância. Eu não acho esta opção muito convincente, porque se ele realmente quisesese os bens da terra, ia ficar por mais tempo ou pelo menos voltaria.

Opção dois é que Caminha realmente desejava a salvação do povo, más ele também era o produto da sua época e de seu país. Quer dizer, ele era um homem piedoso, que também queria trazer glória e riquezas à sua pátria mãe. Para ele, não era ruim tomar terra e materias dos nativos que já inabitava o país, a medida que os salvasse. Acho que esta opção é uma boa possibilidade.

A terceira opção é que Caminha realmente não dava nenhuma importância ás riquezas da terra, más era um grande político. Quer dizer que ele, conhecendo as coisas que picavam o interesse do rei, exagerou esses detalhes e ignorou a maioria dos detalhes negativos. Fez isso com o fim de persuadir o rei a colonizar o brasil, para que os nativos pudessem ser salvos. Esta opção é uma possibilidade, más eu acho difícil acreditar que Caminha era tão manipulador.


Tal vez não podemos conhecer os motivos exatos do autor deste texto, mas assim, A Carta passa a ser uma das grandes obras literárias Brasileiras, sendo um mistério sem conclusão. E assim é: mais de 500 anos desde que foi escrito, e ainda o discutimos e ponderamos.

Monday, September 5, 2011

Entre Dois Mundos

A seguinte pasagem foi tirada do conto "Entre Dois Mundos," escrito por Franciso Maciel. Nesta pasagem, AC, o protagonista, passa uma noite no Jardim Catarina, "a maior favela horizontal de toda a América Latina." AC foi lá, fugindo de um outro mundo em que ele não pertencia, más nesta noite ele aprende uma coisa sombria.

AC tentou criar silêcio, mas logo os vizinhos começaram a espancar suas paredes protestando contra o ruído da máquina de escrever. O choro das crianças, maridos espancando mulheres e crianças, os gemidos dos pombos do amor, as fofocas, of fuxicos, os bate-bocas, tudo era humano. O ruído da máquina de escrever quebrava a desarmonia humana da vila e por isso espancavam sua paredes. Um dia, bêbado, AC cantou até de madrugada e ninguém protestou. In der Welt. In der Nacht. Ainda estava preso.

O que significa estar preso? Para AC, estar preso quer dizer estar num lugar onde ele e seu ideal não são aceitos. Antes de ir à favela, AC vivia entre a intelegista do Rio de Janeiro. Lá, ele foi preso "por ser negro às seis da manhã em Copacabana falanda sozinho em língua estranha." Ele não era doido, porém - só fazia o que queria e isso não foi aceito. Depois disso, ele percebeu que realmente não tinha amigos no Rio, nem no bar aonde ele ia para recitar poemas. Ele estava preso entre eles porque teria que se mudar se quissesse viver com eles.

Na favela, mais uma vez, vemos que AC e seu ideal são rejeitados. Mesmo depois de se tornar líder, ele está preso por causa das forças que apressionam-no a fazer o que querem. No final, AC acaba sendo assassinado porque não se curva às exigências daqueles que tem poder.

AC é uma figura híbrida. Ele não cabe no mundo do elite, nem no mundo dos pobres. Ele pode viver em qualquer dos dois, más, só se deixe de lado o seu ideal e se sujeite às normas da realidade em que vive. Parace que o conto pinta a imagem de um Brasil onde ninguém está livre. Se a liberdade quer dizer a habilidade de fazer qualquer coisa sem sujeitar-se á uma outra realidade, talvez a liberdade realmente é inacessível.